domingo, 20 de abril de 2014

TPM

TPM.
A carcaça que nos reveste não tem ideia do que se passa lá dentro, na cabine de comando.
O espelho, vendedor de ilusões, nos dá dicas interessantes.
Parado na parede, ele nos mostra que é preciso cortar o cabelo, diminuir a barriga, observar melhor a ruga.
Inocente, o espelho fala com a carcaça e ela, vaidosa, decide se segue os conselhos ou não.
Mas o mundo e nossas pernas pouco sabem do que vem de dentro.
Lemos sinais, seguimos dicas, observamos regras e vamos, voltamos, ficamos.
A casa das máquinas, ciumenta, não se omite e nos faz mudar planos.
Enganados pelo espelho, achamos que a chave é nossa, mas o comando altera nosso humor.
Risonhos, hormônios mexem nas agendas e sobrancelhas.
Perdemos o pique, a força, a vontade e buscamos achar explicações para tamanhas alterações.
E a central comanda.
Cai uma lágrima e não achamos razões.
Cai outra lágrima e já é o suficiente para perceber que o espelho e a carcaça nada sabem.
A casa das máquinas, que brinca de ser amiga quando quer, dá uma pista e lá está o mês de abril.
O mês de abril me tira do eixo.
Faço contas, me entrego aos planos.
Deixo o espelho palpitar e acho que vou ali e acolá.
Custo a entender o que me deixa menos.
Mas lá dentro o controle já sabe.
Abril de 2014.
Já são 14 anos, né, mãe.
São 14 anos sem ver seu sorriso e seus cabelos.
São longos anos.
E mesmo sem passar nem um único dia sem pensar em você é em abril que tudo muda.
Estou mais forte, mais resolvido, vivido, lúcido e sempre capenga em abril.
Não controlo mesmo.
Dentro de mim tem um calendário e ele me cutuca.
Nem ligo para o espelho e para suas conclusões em abril.
Abril é o mês da Tensão Pós Morte da minha mãe.