sábado, 10 de agosto de 2013

Sou seu pai

Fiquei assustado com a sua voz.
Continuava doce, é verdade, mas era mais encorpada.
Sua voz, suas formas.
Você cresceu.
Vi seus braços ficarem desajeitados, largados, caídos, engraçados.
Vi seu pé esticar. Ficou grande, base sólida.
Seus cabelos, sempre compridos, já aceitaram vários penteados e vi todos os que você deixou ver.
E há sempre algo novo no seu já decorado corpo.
Mesmo que o novo seja o velho jeito de me olhar um olhar diferente.
Você sempre gostou de rir de mim, rir para mim, rir comigo.
Contamos casos, inventamos personagens, modificamos histórias e sempre rimos no final, no meio, no início.
Te peguei quando você ia do punho ao meu cotovelo.
Nem tenho mais força para te carregar e agora você vai do chão até meu ombro.
O tempo é o cenário do imenso caso de amor que vivo por você.
Privilegiado cenário.
Das coxias, ele, o tempo, deve ter se rendido ao seu jeito amigo.
Discreto, ele quis apagar suas lágrimas.
Paciente, ele entendeu que a dor nos unia ainda mais.
Alegre, ele nos ensinou que estamos sempre juntos.
Gozador, ele criou um dia para simbolizar o que mais gosto de ser.
Sou seu pai.
Sou seu pai e me acostumei a ver as lágrimas dividindo com você o espaço das suas fotos.
Sou seu pai e me assusto quando vejo o que ser seu pai representa para você.
Sou seu pai e sou muito feliz por ser seu pai.
Sou seu pai.
Sou seu.






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