sábado, 6 de abril de 2013

Feliz idade

Até tenho ideia de quantos anos passei longe daquele tão gostoso lugar.
Minhas lembranças pareciam estar em preto e branco.
Mas recaminhei em vários lugares.
Senti de novo vários cheiros que procuro há anos e descobri que estavam lá.
Minha noção espacial adquiriu novos valores.
Passei por lugares que eram tão distantes para uma criança, mas que para um senhor são bem próximos.
Me vi nos rostos de vários meninos.
Vi uns no campo, outros na piscina grande.
Infelizmente não vi ninguém no lugar mais cativo da minha memória.
Foi naquela piscina que nadei com chuva pela primeira vez.
Consigo me lembrar das disputas que travava para chegar mais perto do chafariz.
Chafariz, que para mim era lindo, mas agora parecia abandonado.
Logo cedo abandonei as boias de braço e abandonei ali.
Na verdade, não tenho certeza se foi mesmo ali, mas sentimentalmente foi ali que entendi chegar ao chafariz era apenas mais um desafio.
E o mundo propôs vários desafios.
Aquela piscina testemunhou um amor imenso pelos meus tios e meus primos.
Um era alto e forte. Ele era um ídolo.
Foi a primeira pessoa que me falou sobre um tal de Vôlei.
Uma tão parceira, tão próxima, tão companheira.
É uma pessoa que faz tudo por mim até hoje.
E uma outra que chegou depois e chegou com tanta beleza.
Ela era a primeira pessoa que despertou em mim o cuidar.
E quem cuidava de todos eles?
Um amado e uma amada.
Adorava aqueles cabelos brancos.
Ele pegava no meu pé.
Me chamava de torcedor do time rival.
Fazia isso e repetia só para me ensinar a desconversar, a ser mais leve, mais gozador.
E ela me enchia de carinho.
Ficava vendo ela cantar as músicas do Roberto e tentava aprender para ficar mais perto.
Ela ria de mim e chamava a casa para rir junto.
Fazia comida gostosa e transformou aquela casa em meu lar também.
Foi bom voltar ao Clube Albert Scharlé,
o único lugar que me viu trocar a bola pela piscina.
Trocava o ego dos dribles e chutes pelo abraço gostoso e molhado da minha mãe.
Ali todos nós fomos muito felizes.
Scharlé tem gosto de água e gargalhada.
Um lugar para a tia Tetela, para a tia Marília, Tio Bitiu, Willer, Mônica e Renata.
Um lugar que testemunhou felicidade.