Procurei desesperadamente me afastar do assunto.
Não quis ver.
Troquei o canal, deixei sem volume, passei a página mais rápido e até mesmo fechei os olhos.
Fiz de tudo.
Mas seu sorriso me pegou de jeito.
Quis evitar, mas não consegui.
Não convivi com seu sorriso, mas me perdi nele.
Como pode?
Como alguém que conheceu de perto o seu olhar teve coragem de negar sua vida?
Foram três anos, Joaquim.
Três anos!
Viram você chorar, sofrer com as dores na barriga, aprender a falar, cair, tropeçar e levantar.
Viram seus dentes doendo.
Compraram remédio para você?
Trocaram sua fralda?
Deixaram você com dor?
Imagino você correndo.
Será que chutou a bola?
Preferia qual cor?
Quantas decisões você tomou, Joaquim?
Queria saber se alguma música te fazia mais feliz.
Algum desenho te hipnotizava?
Joaquim, não te conheci.
Queria saber sobre seu corte de cabelo.
Sabe, Joaquim, o Danilo, meu filho, só conseguia cortar o cabelo quando eu ia com ele.
E cortar o cabelo nunca foi o forte dele.
Ele gosta de cabelo grande.
Um dia ligaram um videogame para ele e acho que nem percebeu que havia cortado o cabelo.
Difícil foi fazer ele sair do salão.
Quantas histórias você não poderá fazer.
Quantas perguntas você teria.
Seu sorriso, seus olhinhos.
Quanta maldade, anjo Joaquim.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
terça-feira, 17 de setembro de 2013
A bola e minha vida
Rodrigo foi a primeira pessoa que consegui chamar de craque.
Jogava fácil.
Era rápido, driblador, inteligente e batia muito bem na bola.
Na verdade, vimos pouco ele bater na bola.
De tão bom, Rodrigo levava a bola até a área e apenas colocava a amada para deitar na rede.
Ele era suave com a bola.
Jaime era um grande goleiro.
Chileno que veio para o Brasil para escapar das mortes, Jaime era firme e nos dava a segurança necessária.
Lá na frente estava eu.
Corria feito um maluco.
Era maluco a ponto de dividir todas e entrar com a bola em uma das divididas.
Magrinho, franzininho e bravo em quadra.
O primeiro jogo daqueles meninos de nove anos foi contra um colégio que chamávamos de Colégio do Carmo.
Recebemos o Carmo na nossa casa.
O Santa Doroteia estava lotado.
Minha mãe estava lá na arquibancada.
O jogo terminou com um tranquilo 7 a 2.
Marquei três ou quatro.
Éramos todos meninos e nosso craque menino sentiu o peso do jogo.
Rodrigo não rendeu, mas o time era bom.
Uma semana depois estávamos nós no Carmo.
Pouco entendíamos sobre saldo de gols, mas sabíamos que até podíamos perder.
Perder?
Perder era coisa de louco para quem achava que o mundo era o pátio do colégio.
Perdemos.
6 a 5.
Marquei mais três.
Minha mãe era a mais orgulhosa das mães.
E aquele time começava a ganhar alguma fama no colégio.
Começamos a treinar e passamos a fazer nossa brincadeira virar ofício.
Um dia um cara estava lá conversando com o Rodrigo.
O cara depois foi falar com o Jaime e ficamos nós três ali.
O cara, meus amigos e um cartão na mão de cada um.
Faminto, só queria sair rápido para almoçar.
Deslumbrado, Rodrigo falava para todos que íamos jogar no América.
Não fomos.
Aquele cartão se perdeu nos nossos sonhos e nossos sonhos começaram a mudar.
A vida ficou melhor para o Jaime e para a Maria da Paz, adorava o nome da irmã dele.
Rodrigo foi morar no interior e minha casa passou a ser distante do Santa Doroteia.
Aqueles momentos e aquele jogo contra o Carmo ficaram na minha memória.
Vivi outros casos tão marcantes com a bola.
A seleção da AABB foi marcante.
Mumu, o treinador, começou a formar um time.
Perguntou a cada um a posição preferida.
Treinei bem a primeira na minha ala direita.
Aprendi cedo a bater bem na bola e sempre gostei de cortar para a direita acertar um cruzado.
Mas no segundo treino fui para a esquerda.
Para a esquerda?
Não gostei, mas treinei.
De pivô no terceiro treino e de fixo no quarto.
Cheguei a imaginar que o gol era um caminho natural.
Nunca repetia minhas posições.
Lamentei comigo mesmo, mas era um escravo maluco em quadra.
A véspera do anúncio do time escolhido pelo Mumu foi um dia especial.
A AABB receberia o Sem Compromisso Futebol Clube.
Cheguei cedo.
Veria meus ídolos.
Aos 16 anos veria Éder, Marcelo e Nelinho contra o time do meu clube.
Claro que aproveitei a presença do Mumu no bate bola para tentar ficar perto dos meus gênios.
E não é que sobrou para mim?
Faltou um, faltou o outro e o time de veteranos passou a ter um adolescente em campo.
Adorava o campo, mas jogava Salão.
E fiz um meia pela direita.
Nelinho, para quem não sabe, gostava de jogar por ali.
E da meia direita, sendo vigiado por ele, percebi que, após um passe ele viria para me apertar.
Nem precisei olhar para a lateral esquerda e acertei uma linda inversão para o Marcelo, lateral do dia.
Seu Mané, gigante, imenso, virou para mim e disse: "Grande bola, garoto".
Claro que perdemos.
Vi Nelinho cochichar que ia bater um elevador na próxima falta.
Vi o elevador subir na barreira e cair no canto do gol.
O jogo foi um sonho.
Nunca perder foi tão gostoso.
E na hora da lista dos selecionados para a disputa da FECEMG vi que meu nome não estava entre os alas.
Nos fixos também não e muito menos pivô.
Fiquei triste, abatido.
Mas a surpresa foi quando Mumu fechou a lista falando que estava convocando um polivalente: eu.
Ele gostou de mim desde a primeira vez e já tinha se decidido por mim.
Trabalhador, escravo, maluco e pau para toda obra.
Um dia antes do meu aniversário saí da minha seriedade e dei uma bela caneta no meu peladeiro marcador.
Humilhado e ridicularizado pelos colegas, percebi que o adversário bufava no meu encalço.
Teria um problema.
Em jogada individual, carreguei a bola da direita para a esquerda.
Passei na corrida por mais alguns, mas o humilhado continuava babando pelo meu tornozelo.
Escapei dele, mas travei o pé em um buraco no campo.
Minha perna parou e meu corpo girou.
Passei meu aniversário no gelo.
Passei os outros dias nos consultórios.
Dr. Ângelo Lazaroni e depois Dr. Ronaldo Nazaré.
Sofri com meu ligamento cruzado anterior todo estourado.
Mas voltei.
Fui recebido de braços abertos pelos meus colegas de time.
Mas todos perceberam que eu ainda tinha medo.
Não batia mais de frente.
Tentava enganar e rolava a bola para fugir do medo da dor.
Pedi para sair.
Apaguei minha luz.
O tempo cuidou, curou.
Disputei outros campeonatos.
Convivi com minha única distensão e minha única contratura.
Tomei bico no joelho, mas estendi a mão para o idiota que quis me pegar.
Fomos campeões no Sindicato dos Bancários.
Na bela e velha ala direita fiz o gol do título em um carrinho com o goleiro batido.
Até que o outro joelho estourou e outra cirurgia.
Dr. Lúcio Flávio fez milagre.
Estourei todos os ligamentos, todos os feixes e muitas lesões no menisco.
Tendo a muleta como parceira, pensei se voltaria.
Voltei.
Realizei meu sonho e vi a família marcar 16 gols na pelada.
Fiz dez e o Danilo fez seis.
Ainda não é chegada a hora de parar totalmente.
Sinto é que não consigo mais competir, não consigo ser rápido e nem maluco.
Nem mesmo bato como já bati na bola.
A derrota de ontem me fez ver que só dá para voltar se for para ser rápido, maluco e competitivo.
Só sei fazer assim.
Só pode ser assim.
Não sei onde está o Rodrigo e espero que o Jaime esteja feliz no seu Chile.
Não tenho mais notícias do Mumu.
Tenho pouco contato com meus amigos do time do campeonato do Sindicato.
Sei que todos eles vão destacar minhas marcas, meu jeito.
Meus sonhos ficaram naquele primeiro buraco.
Meus próximos passos e passes só serão dados se eu estiver forte para não me decepcionar comigo mesmo.
O polivalente não aprendeu a perder.
Jogava fácil.
Era rápido, driblador, inteligente e batia muito bem na bola.
Na verdade, vimos pouco ele bater na bola.
De tão bom, Rodrigo levava a bola até a área e apenas colocava a amada para deitar na rede.
Ele era suave com a bola.
Jaime era um grande goleiro.
Chileno que veio para o Brasil para escapar das mortes, Jaime era firme e nos dava a segurança necessária.
Lá na frente estava eu.
Corria feito um maluco.
Era maluco a ponto de dividir todas e entrar com a bola em uma das divididas.
Magrinho, franzininho e bravo em quadra.
O primeiro jogo daqueles meninos de nove anos foi contra um colégio que chamávamos de Colégio do Carmo.
Recebemos o Carmo na nossa casa.
O Santa Doroteia estava lotado.
Minha mãe estava lá na arquibancada.
O jogo terminou com um tranquilo 7 a 2.
Marquei três ou quatro.
Éramos todos meninos e nosso craque menino sentiu o peso do jogo.
Rodrigo não rendeu, mas o time era bom.
Uma semana depois estávamos nós no Carmo.
Pouco entendíamos sobre saldo de gols, mas sabíamos que até podíamos perder.
Perder?
Perder era coisa de louco para quem achava que o mundo era o pátio do colégio.
Perdemos.
6 a 5.
Marquei mais três.
Minha mãe era a mais orgulhosa das mães.
E aquele time começava a ganhar alguma fama no colégio.
Começamos a treinar e passamos a fazer nossa brincadeira virar ofício.
Um dia um cara estava lá conversando com o Rodrigo.
O cara depois foi falar com o Jaime e ficamos nós três ali.
O cara, meus amigos e um cartão na mão de cada um.
Faminto, só queria sair rápido para almoçar.
Deslumbrado, Rodrigo falava para todos que íamos jogar no América.
Não fomos.
Aquele cartão se perdeu nos nossos sonhos e nossos sonhos começaram a mudar.
A vida ficou melhor para o Jaime e para a Maria da Paz, adorava o nome da irmã dele.
Rodrigo foi morar no interior e minha casa passou a ser distante do Santa Doroteia.
Aqueles momentos e aquele jogo contra o Carmo ficaram na minha memória.
Vivi outros casos tão marcantes com a bola.
A seleção da AABB foi marcante.
Mumu, o treinador, começou a formar um time.
Perguntou a cada um a posição preferida.
Treinei bem a primeira na minha ala direita.
Aprendi cedo a bater bem na bola e sempre gostei de cortar para a direita acertar um cruzado.
Mas no segundo treino fui para a esquerda.
Para a esquerda?
Não gostei, mas treinei.
De pivô no terceiro treino e de fixo no quarto.
Cheguei a imaginar que o gol era um caminho natural.
Nunca repetia minhas posições.
Lamentei comigo mesmo, mas era um escravo maluco em quadra.
A véspera do anúncio do time escolhido pelo Mumu foi um dia especial.
A AABB receberia o Sem Compromisso Futebol Clube.
Cheguei cedo.
Veria meus ídolos.
Aos 16 anos veria Éder, Marcelo e Nelinho contra o time do meu clube.
Claro que aproveitei a presença do Mumu no bate bola para tentar ficar perto dos meus gênios.
E não é que sobrou para mim?
Faltou um, faltou o outro e o time de veteranos passou a ter um adolescente em campo.
Adorava o campo, mas jogava Salão.
E fiz um meia pela direita.
Nelinho, para quem não sabe, gostava de jogar por ali.
E da meia direita, sendo vigiado por ele, percebi que, após um passe ele viria para me apertar.
Nem precisei olhar para a lateral esquerda e acertei uma linda inversão para o Marcelo, lateral do dia.
Seu Mané, gigante, imenso, virou para mim e disse: "Grande bola, garoto".
Claro que perdemos.
Vi Nelinho cochichar que ia bater um elevador na próxima falta.
Vi o elevador subir na barreira e cair no canto do gol.
O jogo foi um sonho.
Nunca perder foi tão gostoso.
E na hora da lista dos selecionados para a disputa da FECEMG vi que meu nome não estava entre os alas.
Nos fixos também não e muito menos pivô.
Fiquei triste, abatido.
Mas a surpresa foi quando Mumu fechou a lista falando que estava convocando um polivalente: eu.
Ele gostou de mim desde a primeira vez e já tinha se decidido por mim.
Trabalhador, escravo, maluco e pau para toda obra.
Um dia antes do meu aniversário saí da minha seriedade e dei uma bela caneta no meu peladeiro marcador.
Humilhado e ridicularizado pelos colegas, percebi que o adversário bufava no meu encalço.
Teria um problema.
Em jogada individual, carreguei a bola da direita para a esquerda.
Passei na corrida por mais alguns, mas o humilhado continuava babando pelo meu tornozelo.
Escapei dele, mas travei o pé em um buraco no campo.
Minha perna parou e meu corpo girou.
Passei meu aniversário no gelo.
Passei os outros dias nos consultórios.
Dr. Ângelo Lazaroni e depois Dr. Ronaldo Nazaré.
Sofri com meu ligamento cruzado anterior todo estourado.
Mas voltei.
Fui recebido de braços abertos pelos meus colegas de time.
Mas todos perceberam que eu ainda tinha medo.
Não batia mais de frente.
Tentava enganar e rolava a bola para fugir do medo da dor.
Pedi para sair.
Apaguei minha luz.
O tempo cuidou, curou.
Disputei outros campeonatos.
Convivi com minha única distensão e minha única contratura.
Tomei bico no joelho, mas estendi a mão para o idiota que quis me pegar.
Fomos campeões no Sindicato dos Bancários.
Na bela e velha ala direita fiz o gol do título em um carrinho com o goleiro batido.
Até que o outro joelho estourou e outra cirurgia.
Dr. Lúcio Flávio fez milagre.
Estourei todos os ligamentos, todos os feixes e muitas lesões no menisco.
Tendo a muleta como parceira, pensei se voltaria.
Voltei.
Realizei meu sonho e vi a família marcar 16 gols na pelada.
Fiz dez e o Danilo fez seis.
Ainda não é chegada a hora de parar totalmente.
Sinto é que não consigo mais competir, não consigo ser rápido e nem maluco.
Nem mesmo bato como já bati na bola.
A derrota de ontem me fez ver que só dá para voltar se for para ser rápido, maluco e competitivo.
Só sei fazer assim.
Só pode ser assim.
Não sei onde está o Rodrigo e espero que o Jaime esteja feliz no seu Chile.
Não tenho mais notícias do Mumu.
Tenho pouco contato com meus amigos do time do campeonato do Sindicato.
Sei que todos eles vão destacar minhas marcas, meu jeito.
Meus sonhos ficaram naquele primeiro buraco.
Meus próximos passos e passes só serão dados se eu estiver forte para não me decepcionar comigo mesmo.
O polivalente não aprendeu a perder.
sábado, 10 de agosto de 2013
Sou seu pai
Fiquei assustado com a sua voz.
Continuava doce, é verdade, mas era mais encorpada.
Sua voz, suas formas.
Você cresceu.
Vi seus braços ficarem desajeitados, largados, caídos, engraçados.
Vi seu pé esticar. Ficou grande, base sólida.
Seus cabelos, sempre compridos, já aceitaram vários penteados e vi todos os que você deixou ver.
E há sempre algo novo no seu já decorado corpo.
Mesmo que o novo seja o velho jeito de me olhar um olhar diferente.
Você sempre gostou de rir de mim, rir para mim, rir comigo.
Contamos casos, inventamos personagens, modificamos histórias e sempre rimos no final, no meio, no início.
Te peguei quando você ia do punho ao meu cotovelo.
Nem tenho mais força para te carregar e agora você vai do chão até meu ombro.
O tempo é o cenário do imenso caso de amor que vivo por você.
Privilegiado cenário.
Das coxias, ele, o tempo, deve ter se rendido ao seu jeito amigo.
Discreto, ele quis apagar suas lágrimas.
Paciente, ele entendeu que a dor nos unia ainda mais.
Alegre, ele nos ensinou que estamos sempre juntos.
Gozador, ele criou um dia para simbolizar o que mais gosto de ser.
Sou seu pai.
Sou seu pai e me acostumei a ver as lágrimas dividindo com você o espaço das suas fotos.
Sou seu pai e me assusto quando vejo o que ser seu pai representa para você.
Sou seu pai e sou muito feliz por ser seu pai.
Sou seu pai.
Sou seu.
Continuava doce, é verdade, mas era mais encorpada.
Sua voz, suas formas.
Você cresceu.
Vi seus braços ficarem desajeitados, largados, caídos, engraçados.
Vi seu pé esticar. Ficou grande, base sólida.
Seus cabelos, sempre compridos, já aceitaram vários penteados e vi todos os que você deixou ver.
E há sempre algo novo no seu já decorado corpo.
Mesmo que o novo seja o velho jeito de me olhar um olhar diferente.
Você sempre gostou de rir de mim, rir para mim, rir comigo.
Contamos casos, inventamos personagens, modificamos histórias e sempre rimos no final, no meio, no início.
Te peguei quando você ia do punho ao meu cotovelo.
Nem tenho mais força para te carregar e agora você vai do chão até meu ombro.
O tempo é o cenário do imenso caso de amor que vivo por você.
Privilegiado cenário.
Das coxias, ele, o tempo, deve ter se rendido ao seu jeito amigo.
Discreto, ele quis apagar suas lágrimas.
Paciente, ele entendeu que a dor nos unia ainda mais.
Alegre, ele nos ensinou que estamos sempre juntos.
Gozador, ele criou um dia para simbolizar o que mais gosto de ser.
Sou seu pai.
Sou seu pai e me acostumei a ver as lágrimas dividindo com você o espaço das suas fotos.
Sou seu pai e me assusto quando vejo o que ser seu pai representa para você.
Sou seu pai e sou muito feliz por ser seu pai.
Sou seu pai.
Sou seu.
sexta-feira, 7 de junho de 2013
Uma pinta e um ponto de interrogação
Tinha o tamanho de uma dúvida.
Imóvel, ela viu a dúvida crescer.
E as dúvidas quando crescem se tornam inquietação.
E a inquietação pode se tornar desespero ou apenas uma inquietação com momentos de aflição.
Meus momentos de aflição foram poucos, mas existiram.
Fiquei sabendo que ela era estranha.
De estranha, para mim, virou feia, quase venenosa.
Só mesmo um especialista em coisas feias e quase venenosas para retomar a tranquilidade.
E ela continuava lá, pequena como uma dúvida pequena.
Estranha? Que nada!
A médica viu minha sorrateira pinta nas costas e falou que ela não oferecia riscos.
Ela era apenas uma pinta nas costas.
Mas ela era uma pinta nas costas e tinha se tornado uma pinta nas costas e uma dúvida na cabeça.
Com poucos dias ela passou a ser uma pinta nas costas, uma dúvida na cabeça e uma pequena e imprecisa dorzinha.
Se eu não tivesse mostrado a minha quase grande inquietação a quem entende de pintas, a quase grande inquietação teria virado um desespero, uma aflição.
E poucos e longos segundos foram suficientes para que minha quase grande inquietação se transformasse em alívio.
E meu alívio virou humor.
Meu humor apagou minha dúvida e ainda resolveu escreveu umas linhas...
Imóvel, ela viu a dúvida crescer.
E as dúvidas quando crescem se tornam inquietação.
E a inquietação pode se tornar desespero ou apenas uma inquietação com momentos de aflição.
Meus momentos de aflição foram poucos, mas existiram.
Fiquei sabendo que ela era estranha.
De estranha, para mim, virou feia, quase venenosa.
Só mesmo um especialista em coisas feias e quase venenosas para retomar a tranquilidade.
E ela continuava lá, pequena como uma dúvida pequena.
Estranha? Que nada!
A médica viu minha sorrateira pinta nas costas e falou que ela não oferecia riscos.
Ela era apenas uma pinta nas costas.
Mas ela era uma pinta nas costas e tinha se tornado uma pinta nas costas e uma dúvida na cabeça.
Com poucos dias ela passou a ser uma pinta nas costas, uma dúvida na cabeça e uma pequena e imprecisa dorzinha.
Se eu não tivesse mostrado a minha quase grande inquietação a quem entende de pintas, a quase grande inquietação teria virado um desespero, uma aflição.
E poucos e longos segundos foram suficientes para que minha quase grande inquietação se transformasse em alívio.
E meu alívio virou humor.
Meu humor apagou minha dúvida e ainda resolveu escreveu umas linhas...
Pai e filho torcedores
A tinta e o papel tentam se entender.
Ela quer ser compreendida e ele apenas escuta, aceita.
O mar, agitado, grita e esperneia.
A areia, passiva, se oferece, compreende.
O dia se divide para que sol e lua brilhem.
O mundo e a vida se fartam de relações.
Algumas relações são passageiras, agradáveis ou não.
Outras são esculpidas no coração.
Marcantes, marcadas.
Me relaciono com meu filho com toda a minha força.
O dia tem mais sentido após ouvir a voz dele.
Busco interesses comuns, afinidades.
Invisto em quantidade e em qualidade.
Quero mais, busco mais, quero melhor.
Deixo a memória vasculhar meu passado e comparo.
Vago entre lembranças de desencontros e confronto com cenas próximas de afinidade, cumplicidade.
Meu filho, meu amigo.
Minhas lembranças não dão conta de momentos como os que vivemos há alguns dias.
Alimentando sonhos, estávamos nós diante do fracasso.
O sorriso largo havia se convertido em palavras soltas arremessadas ao nada.
Repetíamos, ainda que sem fé, o nosso mantra.
O fim estava logo ali e olhávamos tentando não ver.
Como em um filme, mocinho e bandido.
O bandido tinha o poder da decisão.
E não estava em jogo apenas o jogo ou a classificação.
Meus longos papos com meu filho e nosso assunto preferido estava sendo questionado.
Não teríamos mais o que falar sobre aquilo?
Não riríamos mais de nossos heróis?
Cairíamos com a cara no chão da realidade dura?
Nos ampararíamos como pai a filho e sonharíamos novos sonhos?
Esperaríamos, querendo não esperar e sem esperanças, pelo nosso mocinho?
Milagre. Choro. Alívio. Felicidade. Mãos dadas.
Os passos seguintes foram trilhados com afetos e sonhos.
Sonhamos juntos e aceitamos que um clube será eterno em nossa cumplicidade.
Nossa relação, pai e filho, é de amigo e amigo, torcedor e torcedor.
Precisamos um do outro e vivemos juntos nossas euforias.
Naquela noite, aquele herói nos tornou, mais uma vez, um.
O mocinho defendendo pai e filho
Ela quer ser compreendida e ele apenas escuta, aceita.
O mar, agitado, grita e esperneia.
A areia, passiva, se oferece, compreende.
O dia se divide para que sol e lua brilhem.
O mundo e a vida se fartam de relações.
Algumas relações são passageiras, agradáveis ou não.
Outras são esculpidas no coração.
Marcantes, marcadas.
Me relaciono com meu filho com toda a minha força.
O dia tem mais sentido após ouvir a voz dele.
Busco interesses comuns, afinidades.
Invisto em quantidade e em qualidade.
Quero mais, busco mais, quero melhor.
Deixo a memória vasculhar meu passado e comparo.
Vago entre lembranças de desencontros e confronto com cenas próximas de afinidade, cumplicidade.
Meu filho, meu amigo.
Minhas lembranças não dão conta de momentos como os que vivemos há alguns dias.
Alimentando sonhos, estávamos nós diante do fracasso.
O sorriso largo havia se convertido em palavras soltas arremessadas ao nada.
Repetíamos, ainda que sem fé, o nosso mantra.
O fim estava logo ali e olhávamos tentando não ver.
Como em um filme, mocinho e bandido.
O bandido tinha o poder da decisão.
E não estava em jogo apenas o jogo ou a classificação.
Meus longos papos com meu filho e nosso assunto preferido estava sendo questionado.
Não teríamos mais o que falar sobre aquilo?
Não riríamos mais de nossos heróis?
Cairíamos com a cara no chão da realidade dura?
Nos ampararíamos como pai a filho e sonharíamos novos sonhos?
Esperaríamos, querendo não esperar e sem esperanças, pelo nosso mocinho?
Milagre. Choro. Alívio. Felicidade. Mãos dadas.
Os passos seguintes foram trilhados com afetos e sonhos.
Sonhamos juntos e aceitamos que um clube será eterno em nossa cumplicidade.
Nossa relação, pai e filho, é de amigo e amigo, torcedor e torcedor.
Precisamos um do outro e vivemos juntos nossas euforias.
Naquela noite, aquele herói nos tornou, mais uma vez, um.
O mocinho defendendo pai e filho
quarta-feira, 1 de maio de 2013
! x ?
Todo dia é dia de clássico.
Entram em campo dois times que deveriam jogar juntos, mas muitas vezes são inimigos mortais, opositores fiéis, sol e lua.
Como Somos x Como Somos Vistos.
Somos vazios, mas somos vistos como poderosos.
Somos carentes, mas somos vistos como fortalezas.
Somos chorosos, mas somos vistos com sorrisos largos.
Por fora, heróis.
Por dentro, ladrões.
A quem enganamos?
Entram em campo dois times que deveriam jogar juntos, mas muitas vezes são inimigos mortais, opositores fiéis, sol e lua.
Como Somos x Como Somos Vistos.
Somos vazios, mas somos vistos como poderosos.
Somos carentes, mas somos vistos como fortalezas.
Somos chorosos, mas somos vistos com sorrisos largos.
Por fora, heróis.
Por dentro, ladrões.
A quem enganamos?
sábado, 6 de abril de 2013
Feliz idade
Até tenho ideia de quantos anos passei longe daquele tão gostoso lugar.
Minhas lembranças pareciam estar em preto e branco.
Mas recaminhei em vários lugares.
Senti de novo vários cheiros que procuro há anos e descobri que estavam lá.
Minha noção espacial adquiriu novos valores.
Passei por lugares que eram tão distantes para uma criança, mas que para um senhor são bem próximos.
Me vi nos rostos de vários meninos.
Vi uns no campo, outros na piscina grande.
Infelizmente não vi ninguém no lugar mais cativo da minha memória.
Foi naquela piscina que nadei com chuva pela primeira vez.
Consigo me lembrar das disputas que travava para chegar mais perto do chafariz.
Chafariz, que para mim era lindo, mas agora parecia abandonado.
Logo cedo abandonei as boias de braço e abandonei ali.
Na verdade, não tenho certeza se foi mesmo ali, mas sentimentalmente foi ali que entendi chegar ao chafariz era apenas mais um desafio.
E o mundo propôs vários desafios.
Aquela piscina testemunhou um amor imenso pelos meus tios e meus primos.
Um era alto e forte. Ele era um ídolo.
Foi a primeira pessoa que me falou sobre um tal de Vôlei.
Uma tão parceira, tão próxima, tão companheira.
É uma pessoa que faz tudo por mim até hoje.
E uma outra que chegou depois e chegou com tanta beleza.
Ela era a primeira pessoa que despertou em mim o cuidar.
E quem cuidava de todos eles?
Um amado e uma amada.
Adorava aqueles cabelos brancos.
Ele pegava no meu pé.
Me chamava de torcedor do time rival.
Fazia isso e repetia só para me ensinar a desconversar, a ser mais leve, mais gozador.
E ela me enchia de carinho.
Ficava vendo ela cantar as músicas do Roberto e tentava aprender para ficar mais perto.
Ela ria de mim e chamava a casa para rir junto.
Fazia comida gostosa e transformou aquela casa em meu lar também.
Foi bom voltar ao Clube Albert Scharlé,
o único lugar que me viu trocar a bola pela piscina.
Trocava o ego dos dribles e chutes pelo abraço gostoso e molhado da minha mãe.
Ali todos nós fomos muito felizes.
Scharlé tem gosto de água e gargalhada.
Um lugar para a tia Tetela, para a tia Marília, Tio Bitiu, Willer, Mônica e Renata.
Um lugar que testemunhou felicidade.
Minhas lembranças pareciam estar em preto e branco.
Mas recaminhei em vários lugares.
Senti de novo vários cheiros que procuro há anos e descobri que estavam lá.
Minha noção espacial adquiriu novos valores.
Passei por lugares que eram tão distantes para uma criança, mas que para um senhor são bem próximos.
Me vi nos rostos de vários meninos.
Vi uns no campo, outros na piscina grande.
Infelizmente não vi ninguém no lugar mais cativo da minha memória.
Foi naquela piscina que nadei com chuva pela primeira vez.
Consigo me lembrar das disputas que travava para chegar mais perto do chafariz.
Chafariz, que para mim era lindo, mas agora parecia abandonado.
Logo cedo abandonei as boias de braço e abandonei ali.
Na verdade, não tenho certeza se foi mesmo ali, mas sentimentalmente foi ali que entendi chegar ao chafariz era apenas mais um desafio.
E o mundo propôs vários desafios.
Aquela piscina testemunhou um amor imenso pelos meus tios e meus primos.
Um era alto e forte. Ele era um ídolo.
Foi a primeira pessoa que me falou sobre um tal de Vôlei.
Uma tão parceira, tão próxima, tão companheira.
É uma pessoa que faz tudo por mim até hoje.
E uma outra que chegou depois e chegou com tanta beleza.
Ela era a primeira pessoa que despertou em mim o cuidar.
E quem cuidava de todos eles?
Um amado e uma amada.
Adorava aqueles cabelos brancos.
Ele pegava no meu pé.
Me chamava de torcedor do time rival.
Fazia isso e repetia só para me ensinar a desconversar, a ser mais leve, mais gozador.
E ela me enchia de carinho.
Ficava vendo ela cantar as músicas do Roberto e tentava aprender para ficar mais perto.
Ela ria de mim e chamava a casa para rir junto.
Fazia comida gostosa e transformou aquela casa em meu lar também.
Foi bom voltar ao Clube Albert Scharlé,
o único lugar que me viu trocar a bola pela piscina.
Trocava o ego dos dribles e chutes pelo abraço gostoso e molhado da minha mãe.
Ali todos nós fomos muito felizes.
Scharlé tem gosto de água e gargalhada.
Um lugar para a tia Tetela, para a tia Marília, Tio Bitiu, Willer, Mônica e Renata.
Um lugar que testemunhou felicidade.
sábado, 23 de março de 2013
Dudek me ajudou
Eu ficava observando as reações dele.
Adorava quando ele largava os carrinhos e me puxava para jogar bola.
Eu sabia que aqueeles dias seriam decisivos para que ele firmasse conceitos, princípios.
Investi pesado em camisas, meiões, horas e horas de papo e vídeos.
Tudo o que eu fazia era com amor e companheirismo.
E ele sabia reconhecer.
Contava histórias e fazia a bola rolar.
Até que um dia ele descobriu um goleiro maluco.
Muito do que investi em fazer meu filho gostar de futebol ganhou outras proporções quando ele conheceu Jerzy Dudek.
Ele queria ver de novo e morria de rir da Dudek Dance.
Jerzy Dudek, você nem sabe o tanto que me ajudou.
Jerzy Dudek, você não tem ideia do que você fez em uma criança de cinco anos.
Parabéns pelos seus quarenta.
Obrigado por ter me ajudado a criar o conceito de futebol em um menino muito amado.
Adorava quando ele largava os carrinhos e me puxava para jogar bola.
Eu sabia que aqueeles dias seriam decisivos para que ele firmasse conceitos, princípios.
Investi pesado em camisas, meiões, horas e horas de papo e vídeos.
Tudo o que eu fazia era com amor e companheirismo.
E ele sabia reconhecer.
Contava histórias e fazia a bola rolar.
Até que um dia ele descobriu um goleiro maluco.
Muito do que investi em fazer meu filho gostar de futebol ganhou outras proporções quando ele conheceu Jerzy Dudek.
Ele queria ver de novo e morria de rir da Dudek Dance.
Jerzy Dudek, você nem sabe o tanto que me ajudou.
Jerzy Dudek, você não tem ideia do que você fez em uma criança de cinco anos.
Parabéns pelos seus quarenta.
Obrigado por ter me ajudado a criar o conceito de futebol em um menino muito amado.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Perto e longe
Fico longe do Danilo boa parte do ano.
E até por isso procuro passar o meu tempo todo sendo alguém importante na vida dele.
Durmo com ele e acordo com ele.
Ganho com ele e ele ganha comigo.
É muito bom ver que aquele projetinho de gente já sabe compreender, já busca a lógica.
Difícil vai ser ficar longe de novo.
No entanto, já sei que estou muito perto, mesmo longe.
E até por isso procuro passar o meu tempo todo sendo alguém importante na vida dele.
Durmo com ele e acordo com ele.
Ganho com ele e ele ganha comigo.
É muito bom ver que aquele projetinho de gente já sabe compreender, já busca a lógica.
Difícil vai ser ficar longe de novo.
No entanto, já sei que estou muito perto, mesmo longe.
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