sábado, 29 de dezembro de 2012

E se...

E se...
E se eu permitir que a aflição ganhe corpo.
E se eu me afastar do raciocínio lógico e frio.
E se perceber que uma dúvida puxa outra.
E se calar e cegar a consciência.
E se deixar gritar bem alto a voz do desespero.
E se o desespero convidar a irracionalidade.
E se o coração disparar.
E se o braço perceber que as extremidades balançam.
E se a angústia apertar o peito.
E se azedar o gosto da saliva.
E se a retina conquistar liberdade criativa.
E se a bola de neve desarrumar meus cabelos.
E se minha mão mirar a mesa.
E se meus ouvidos ouvirem sua doce voz me chamando.
E se mundo diminuir a velocidade.
E se os pássaros voltarem a cantar.
E se meu olhar avistar o horizonte.
E se um sorriso brotar dos meus lábios.
E se a felicidade for mesmo tangível.
E se seu abraço confortar minha alma.
E se tudo voltar ao normal.
E se...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

No meu antebraço

Ele já não cabe no meu antebraço.
Já coube um dia.
Peguei com todo o cuidado e vi ele ali.
Um ser inteiro no meu antebraço.

Os dias se passaram e foi difícil perceber que ele não era uma extensão do meu corpo.
Amei, amei muito.
Usei toda a minha força para amar e amei.
Um amor inteiro no meu antebraço.

Ele crescia, corria e se divertia com minhas imperfeições.
Viu meus limites e gargalhou deles.
E meus limites estavam cada vez mais escancarados.
Um limite inteiro no meu antebraço.

Às vezes a brandura era deixada de lado.
Conviver com as nossas diferenças era um desafio para mim.
Passei a amar as diferenças dele e ele continuava rindo de mim.
Um sorriso inteiro no meu antebraço.

Ontem sonhei com meu amor.
E no sonho ele voltava a ser pequeno.
Queria falar com ele a língua que falo hoje, mas ele só ria e chorava como aquele menino.
Aquele mesmo menino que esteve no meu antebraço.

O sonho pode ter sido a marca de que ele é ele e eu sou eu.
Ele já sonha um sonho e até se permite sonhar comigo.
Ele é meu sonho e quero que seja sempre assim.
Um sonho inteiro no meu antebraço.

Ele vai ficar distante um tempo.
Minha consciência sabe que preciso ser leve com a ausência.
Vou sentir cada minuto da distância.
Mas vou conservar o carinho daquele primeiro dia no meu antebraço.